Heróis Negros Brasileiros

Para quem não conhece, somos muitos os que lutaram na historia, então conheça e se espelhe neles:

UBIRAJARA FIDALGO
Ator e Dramaturgo - foi o precursor em levar o debate racial para dentro dos palcos.

Ubirajara Fidalgo, criador do TEPRON - Teatro Profissional do Negro - nasceu no Maranhão, e já aos 17 anos, despertou para o fato de que era um "negro falso", como ele mesmo dizia: era necessário ter uma conscientização de sua origem e de sua própria raça.

Em 1968, ainda em São Luis, ingressou no curso de iniciação teatral de Jesus Chediak e daí não parou mais.


Já em 69, realizou o curso de Formação de Atores na Universidade do Maranhão, dando continuidade do curso na Universidade do Rio de Janeiro, e em 1970, participou do Seminário Permanente com o Professor Ronaldo Carijó, onde participou do Ballet Descobrimento do Brasil, com música do maestro Heitor Villa-Lobos.

No ano seguinte, em 71, inicia o curso de preparação de Artes Cênicas com o professor N. de Paiva, promovido pelo Serviço Nacional de Teatro - SNT. Neste mesmo ano, é premiado como melhor ator pela sua expressão corporal no infantil de Pedro Porfírio, dirigido por Procópio Mariano: Faça Alguma Coisa Pelo Coelho, Bicho!
Em 72 passa a ser presença constante em mesas de debates sobre a problemática da raça negra, sendo também convidado para entrevistas em rádio e tv. No ano seguinte, monta o infantil Os Gazeteiros, com um elenco todo formado por atores negros realizava então o seu grande ideal: "Queria ver negros interpretando papéis de cidadãos!"
Seu casamento em 28 de Janeiro de 74 com Alzira Fidalgo, vem solidificar sua brilhante trajetória. O grupo de teatro TEPRON foi a maneira encontrada por Ubirajara para chamar a atenção das pessoas para a falta de espaço para um ator negro. Durante 3 anos, cerca de 300 alunos de teatro passaram pela escola de Fidalgo. Este escritor e autor maranhense sempre teve a preocupação em fazer um trabalho que refletisse também sua condição de negro.
Logo após ter escrito Tuti, em 73, procurou negros famosos para avaliar seu trabalho e para juntos, criarem um espaço alternativo como opção profissional: "Todos, a princípio, ficaram fascinados com a idéia, mas desistiram ante a dificuldade em conseguir verbas", afirmava.
Fidalgo continuou apostando na possibilidade de comercialização da dramaturgia negra e conseguiu provar que estava certo! Na estréia do monólogo Desfuga, em 82 (em cartaz durante 3 anos), sob os aplausos do público, confirmou que é possível um teatro comercial com uma temática envolvente e estimulante como a da consciência racial.
Nos últimos anos muito se falou sobre companhias de teatro compostas por atores afro-brasileiros como o Bando de Teatro Olodum, da Bahia ou a Companhia dos Comuns, no Rio de Janeiro, (ou o Caixa Preta de POA), cujas montagens refletem os anseios da população negra no Brasil. Porém, um dos precursores desse movimento - iniciado ainda nos anos 40 com encenações de clássicos do teatro pelo TEN, Teatro Experimental do Negro, de Abdias do Nascimento - foi o dramaturgo, ator, diretor e produtor maranhense Ubirajara Fidalgo, morto no ano de 1986, no Rio de Janeiro. Criador do Teatro Profissional do Negro, o T.E.P.R.O.N, ainda nos anos 70, poucos anos apos aportar no Rio de Janeiro direto de São Luís do Maranhão. Ubirajara Fidalgo não só tornou-se o primeiro dramaturgo negro no Brasil como foi pioneiro em várias outras frentes; levou, pela primeira vez, o debate racial para os palcos com a participação do público e sua companhia, o TEPRON, iniciou o que hoje tornou-se o lema de instituições respeitadas como o grupo de teatro Nos do Morro; formou e empregou centenas de jovens atores de favelas e periferias. Com o T.E.P.R.O.N Ubirajara Fidalgo encenou uma série de textos autorais que sempre refletiam a problemática do racismo e do preconceito em todas as suas vertentes e através de vários gêneros; fosse em comédias, dramas e, até mesmo, em peças infantis como o musical OS GAZETEIROS, que ficou em cartaz durante os anos de 1982 a 1985 no Teatro Thereza Rachel. Foi lá também que ele encenou junto com o T.E.P.R.O.N outros dois grandes sucessos da época, o monologo DESFULGA (que significa literalmente o contrario de "fuga") e drama de Zé Baiano, o nordestino deslumbrado com a cidade grande em FALA PRA ELES, ELISABETE. Ativista do Movimento Negro, autor, ator, produtor e diretor da companhia, Fidalgo desempenhava todas essas funções com maestria, chegando, inclusive, a apresentar um quadro sobre moda, cultura e comportamento durante os anos de 1984 a 1986 no programa ELA com Edna Savaget, na Rede Bandirantes. Seu último trabalho em vida foi a montagem da peça TUTI no Teatro Calouste Gulbenkian, que abordava o racismo nas relações interpessoais através de um inusitado triângulo amoroso entre uma prostituta, um professor de história e uma judia aristocrata. No ano seguinte, em julho de 1986, viera a falecer, aos 37 anos, em decorrência de insuficiência renal. Todavia ainda deixou um acervo com obras inéditas e um livro inacabado que fazem parte do acervo da Associação Cultural e Teatral Ubirajara Fidalgo, administrada pela sua viúva, a produtora Alzira Fidalgo

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Cruz e Souza



João da Cruz e Sousa nasceu em Desterro, atual Florianópolis. Filho de escravos alforriados pelo Marechal Guilherme Xavier de Sousa, seria acolhido pelo Marechal e sua esposa como o filho que não tinham. Foi educado na melhor escola secundária da região, mas com a morte dos protetores foi obrigado a largar os estudos e trabalhar.

Apesar disso, Cruz e Sousa teve que enfrentar o preconceito racial que era muito mais evidente na época do que é hoje em dia. No entanto, isso não foi pretexto para desmotivá-lo, uma vez que é conhecido como o mais importante escritor do Simbolismo.

Foi diretor do jornal abolicionista Tribuna Popular em 1881. Dois anos mais tarde, foi nomeado promotor público de Laguna (SC), no entanto, foi recusado logo em seguida por ser negro.

Depois de algum tempo no Rio Grande do Sul e após enfrentar represália para não sair de sua terra natal por motivo de preconceito, o autor fixa residência no Rio de Janeiro, onde trabalhou em empregos que não condiziam com sua capacidade e formação.

É então, em 1893, que publica suas obras Missal (poemas em prosa) e Broquéis (poesias), as quais são consideradas o marco inicial do Simbolismo no Brasil que perduraria até 1922 com a Semana de Arte Moderna.

Casou-se com Gavita Gonçalves, com quem teve quatro filhos, os quais morreram precocemente por tuberculose, o que deixou-a enlouquecida 1896. Foi o escritor quem cuidou da esposa, em casa mesmo. Essa é a temática de muitos poemas de Cruz e Sousa.

A linguagem de Cruz e Sousa, herdada do Parnasianismo, é requintada, porém criativa, na medida em que dá ênfase à musicalidade dos versos por intermédio da exploração dos aspectos sonoros dos vocábulos.

Cruz e Sousa faleceu aos 36 anos, em 19 de março de 1898, vítima do agravamento no quadro de tuberculose.

Veja um trecho do poema “Cristais”, no qual é claro o uso da sinestesia, recurso estilístico que associa dois sentidos ou mais (audição, visão, olfato, etc.):

Mais claro e fino do que as finas pratas
o som da tua voz deliciava…
Na dolência velada das sonatas
como um perfume a tudo perfumava.

Era um som feito luz, eram volatas
em lânguida espiral que iluminava,
brancas sonoridades de cascatas…
Tanta harmonia melancolizava.

Filtros sutis de melodias, de ondas
de cantos volutuosos como rondas
de silfos leves, sensuais, lascivos…

Como que anseios invisíveis, mudos,
da brancura das sedas e veludos,
das virgindades, dos pudores vivos.


Obras:

Poesias:
  • Inefável
  • Antífona
  • Siderações
  • O botão da rosa
  • Ao decênio de Castro Alves
  • Braços
  • Encarnação
  • Velhas tristezas
  • Dança do ventre
  • Flor do mar
  • Dilacerações
  • Sinfonias do ocaso
  • Acrobata da dor
  • Música da morte
  • Tristeza do infinito
FLOR DO MAR

És da origem do mar, vens do secreto,
do estranho mar espumaroso e frio
que põe rede de sonhos ao navio
e o deixa balouçar, na vaga, inquieto.
Possuis do mar o deslumbrante afeto,
as dormências nervosas e o sombrio
e torvo aspecto aterrador, bravio
das ondas no atro e proceloso aspecto.
Num fundo ideal de púrpuras e rosas
surges das águas mucilaginosas
como a lua entre a névoa dos espaços...
Trazes na carne o eflorescer das vinhas,
auroras, virgens músicas marinhas,
acres aromas de algas e sargaços...


DILACERAÇÕES

Ó carnes que eu amei sangrentamente,
ó volúpias letais e dolorosas,
essências de heliotropos e de rosas
de essência morna, tropical, dolente...
Carnes, virgens e tépidas do Oriente
do Sonho e das Estrelas fabulosas,
carnes acerbas e maravilhosas,
tentadoras do sol intensamente...

Passai, dilaceradas pelos zelos,
através dos profundos pesadelos
que me apunhalam de mortais horrores...

Passai, passai, desfeitas em tormentos,
em lágrimas, em prantos, em lamentos
em ais, em luto, em convulsões, em dores...


Conheçam mais em:  http://www.jornaldepoesia.jor.br/csousa.html#inicio
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