domingo, 21 de abril de 2013

A LENDA DE OBARÁ


Existiam dezesseis irmãos na cidade de Ilê Ifé na Nigéria:
  1. Okaran Xoxô,
  2. Eji Oko,
  3. Ogundá,
  4. Yorossun, 
  5. Oshé, 
  6. Obará,
  7. Ody, 
  8. Eji-onilê,
  9. Ossá, 
  10. Ofun, 
  11. Owarin Soobè,
  12.  Eji-lashiborá,
  13.  Eji-olobô,
  14.  Iká,
  15.  Ifalahé
  16. Urunmilá Babá Ifá.
O mais pobre era Obará. Os irmãos se reuniram sem Obará saber e como eles tinham negócios e eram ricos, todos os anos procuravam um Babalawô. Chegaram a casa do sacerdote e pediram para ele botar uma mesa, isto é, para jogar búzios. No primeiro lance de jogada o Babalawô verificou a ausência de uma pessoa e disse:
– “Está faltando uma pessoa da família aqui, quem é?”
Eles se entreolharam e disseram:
– “É Obará, nosso irmão mais pobre, nós nunca procuramos ele para nada, ele é uma ovelha negra da nossa família.”

O sacerdote jogou e tirou os ebós necessários para os quinze irmãos. Como na África os babalawôs dão sempre um presente às pessoas que vão se consultar, o sacerdote virou-se e disse, eu como no momento não tenho nada vou dar a cada um uma abóbo ra, para vocês levarem. Entregou as abóboras e eles se retiraram. No caminho uns com os outros comentavam que o Oluwô não tinha dado valor a eles, dando a cada um uma abóbora, presente considerado insignificante e gritavam só quem como isto é porco lá em casa. Um deles falou, como faz muito tempo, vamos visitar o nosso irmão Obará, já é quase noite, pernoitaremos na casa dele e ao amanhecer iremos todos embora. Concordaram e o último disse e ao sairmos deixaremos essas abóboras para Obará comer.

Dito e certo, chegaram à casa de Obará à noitinha, bateram na porta, quem foi atender a esposa de Obará. Os irmãos entraram e saudaram Obará. Obará ficou satisfeito com a visita dos quinze irmãos e perguntou o que era aquilo, eles se olharam entre si e disseram, fomos a um Babalawô e ele disse que este ano você vai morrer, então como você é nosso irmão, viemos nos despedir. Obará abanou a cabeça a mulher começou a chorar com os filhos. Obará então disse:

– “Como é ritual quando se vai morrer oferecer-se um jantar, então você jantarão comigo.”

Os irmãos aproveitaram a oportunidade e comeram tudo da casa de Obará no outro dia cedo se arrumaram, se despediram e ao sair cada um deixou sua abóbora para Obará. Aí começou a chover, chovendo já a três dias a mulher de Obará disse que as caças tinham comido todas as carnes e que a carne seca já havia acabado e até as frutas, enfim tudo. Então Obará lembrou-se das abóboras e disse à mulher come- remos abóboras, vá busca-las, verificaram que na primeira só tinha moedas de ouro, a segunda estava cheia de brilhantes, a terceira só tinha pérolas e assim cada uma tinha uma riqueza dentro. Então uma voz gritou:


– “Não digas nada do que tens, senão voltarás ao que eras.”

Obará prosperou, prosperou, passados meses os irmãos fizeram os ebós e nada resolveram. Então tiveram que procurar um novo Babalwô, se reuniram e lá foram eles novamente. O novo sacerdote fez os preparativos e ao jogar os búzios disse:

– “Falta uma pessoa de sua família aqui, quem é?”

Eles responderam é Obará!

– “Vocês fizeram uns ebós e nada resolveram, vocês receberam cada um grande presente e jogaram fora. Eles responderam, o outro sacerdote nos deu a cada um abóbora.”

Então o Babalawô lhes disse:

– “Vocês deram a riqueza de vocês a este irmão.”

Neste momento, eles escutaram toques e clarins e batidas de tambor na rua e o povo todo correndo e gritando que vinha um Homem muito rico oferecer presentes ao Rei. Os irmãos correram à janela, viram de longe um Homem todo de branco, montado em um cavalo branco que de cem e cem metros mudava para outro cavalo, os cavalos tinham os arreios todos em prata, um séquito de escravos e soldados o acompanhavam eles então gritaram:

– “É Obará nosso irmão.”

O sacerdote então jogou e gritou é a riqueza que estava nas abóboras. Eles se entreolharam, coçaram a cabeça e disseram, amanhã vamos lá tomar o que é nosso. Então o sacerdote terminou o jogo e ofereceu uma moeda a cada um dizendo que guardassem mas que aquele ano não seria bom para eles. Nem havia amanhecido o dia os irmãos estavam na porta do palácio de Obará, que antes era uma casa de barro pequenina. O chefe da guarda perguntou quem deveria anunciar. Voltando o chefe da guarda de Obará trouxe o recado dele dizendo que não poderia atender pôr que estava com visitas importantes e tinha vergonha de apresentá-los como irmãos. Então eles gritavam que queriam as abóboras de volta. Obará da sacada do palácio, respondeu para abrir o chiqueiro dos porcos e devolver as abóboras que já estavam podres, e que os porcos já haviam comido.

Então a mesma voz disse:

- “Obará não diga nada do que tens a ninguém, senão voltarás ao que eras.”

Os irmãos gritavam que queriam as abóboras de volta, e Obará respondeu que apodreceram. Pôr isso que, quem é deste Odu deverá dar comida a ele dentro de uma abóbora todo mês de junho na Lua cheia

Obará é o Odu pobre que se torna rico, se a pessoa falar no que tem, os irmãos (os outros Odus) tomam tudo e a pessoa volta de duas a seis vezes pior do que era. Pôr este motivo que as pessoas deste Odu usam o vintém com a coroa para a frente e a cara para trás, para ninguém ver a cara de Obará.


Fonte:https://afroxe.com.br/portal/index.php/relafrobrasileiras-2/religioesafrobrasileiras/47-candomble/330-lendadeobara

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